Página Memória
"Por que alguém se recorda vividamente de alguns eventos e personagens enquanto outros não? Como a mente é capaz de selecionar aquilo que se sedimenta fundo na memória e aquilo que ela permite flutuar na superfície?"
A memória é seletiva porque nosso cérebro prioriza informações com base na emoção, relevância pessoal e repetição. Eventos carregados de emoção (positiva ou negativa) tendem a ser mais bem armazenados, pois ativam a amígdala, região ligada ao processamento emocional.
Nas rodadas da oficina Museu Autobiográfico e Território_Leste, momentos, pessoas, sensações, objetos e aprendizados me deram a oportunidade de aprofundar conexões, criando memórias que, mesmo individuais, se tornaram coletivas. Dentro desse sentido, essa página traz algumas memórias de exercícios coletivos, sensações minhas como mediador, relatos de experiências de participantes e lembranças sonoras e narrativas dos acontecimentos das oficinas.
Memórias do início do projeto
Das memórias registradas mais bonitas, encontrei recentemente a Lista de Presença das primeiras pessoas participantes de minha oficina.
O primeiro encontro aconteceu em 07 de agosto de 2022, dia dos pais. O Centro Cultural da Penha se equivocou e anunciou o início para o dia 14 de agosto, mas, nas mídias estava como dia 07. Com isso, ganhei dois inícios dessa experiência tão significativa.

Por ser um período ainda de pandemia, participantes ainda utilizavam máscaras e, como mediador, as questões de saúde e distanciamento social ainda se apresentavam como partes que compunham os relacionamentos.
Memória de 2022
O exercício de grupo na primeira rodada da Oficina no Centro Cultural da Penha (CCP):
Se eu fosse você


Utilizando destes e de outros questionamentos, improvisei no primeiro encontro o jogo "Se eu fosse você". Inspirado no documentário Jogo de Cena, do diretor e documentarista Eduardo Coutinho (2007), a experiência/proposta de jogo foi a seguinte: em roda, o primeiro participante se apresenta, contando: o que o fez chegar à oficina; qual o seu bairro; a sua idade; os seus desejos como artista e o que mais julgar pertinente. Em seguida, o segundo participante se apresenta como quiser. Apresentados os relatos dos dois primeiros participantes, eu proponho a troca de papéis.
Esse exercício pretende pegar de surpresa participantes para testar a sua escuta, colocar a pessoa em situação de um "personagem real", desde o início, e ouvir a maneira como se reconta uma história já apresentada, pretendendo ser a pessoa.
Memória de 2024
Registro em Áudio da 1ª Mediação na 3ª rodada da Oficina na Biblioteca Pública Cassiano Ricardo, no Tatuapé
“Creio que minha memória individual está sempre conectada com o mundo, com o que se passa nele, com a história, com as canções”, como diz Annie Ernaux.
Algumas memórias das pessoas participantes sobre as oficinas: 2022 a 2024
Para fixar essa memória coletiva, trago agora depoimentos de pessoas participantes da Oficina no Centro Cultural da Penha em 2022.
O objetivo destes depoimentos encaminhados por participantes era de manter o trabalho da Oficina no mesmo lugar em 2023.
Depoimento: Gleice Arruda

Fecho os olhos, respiro, relaxo e me permito lembrar, reviver, viver e me expor. Crio novas memórias a partir de tudo que já vivi e choro. Estou viva. Eu me sinto viva. Eu existo. Ali, onde uma pessoa se permite ser diante de tantas diferenças e individualidades, eu também me permito. Ali é mais fácil. Com você é mais fácil. Juntos a possibilidade é uma certeza.
As memórias são vivas, presentes e sinceras. Parei de ignorá-las e evitá-las, esse medo se fez pequeno perto da vontade de criar novas memórias e registrar fisicamente e mentalmente aquilo que não volta mais, pelo menos não da mesma forma em que um dia ela existiu.
Entre risos e choros, observo admirada e orgulhosa de fazer parte da memória de alguém que jamais sairá da minha. Olho ao meu redor e percebo o quanto foi importante tudo que vivi, com quem vivi e onde vivi. O lugar também faz parte de nós. Me reconheço entre tijolos e sorrio: isso também sou eu. Isso também é nós.
Desconforto? Se faz quase inexistente quando compartilhamos histórias e criamos memórias com quem também é humano.
Naquele espaço, o silêncio, o choro, o riso e o grito se fizeram tão presentes quanto nossos corpos. Mas, pra além de qualquer coisa, nos fizeram existir e estar, assim como deve ser.
Uma memória minha sobre Gleice
A primeira leitura de texto desenvolvido a partir de entrevista com seu pai, que veio da região Nordeste do Brasil.
Depoimentos Pós-Encontros no Centro Cultural da Penha | 2022
Depoimento de Susana Raposo
Escritora, poeta, mãe de gêmeas. Susana Raposo se entregava profundamente em cada proposta de improviso, cena e criação de texto. Tinha problema em participar da roda final, pois não gostava da palavra Merda, que usávamos para encerrar cada encontro como um grito coletivo. Considerava uma palavra que trazia memórias ruins. Posteriormente, nas outras rodadas na Biblioteca Cassiano Ricardo, começou a se integrar, participando da roda final. Até hoje, Susana é uma das principais apoiadoras da continuidade da oficina.


11/12/2022
Oficina Museu Autobiográfico
Profº Marcelo Maia
Uma experiência incrível que veio para ficar. Descobri que o teatro me centra e me tira do universo do ego. Todos somos um só. E sendo único mas conectados por um objetivo, sobreviver no caos. Eu adorei.
Como laboratório de escrita, mas se tornou muito mais que isso. Avivou meu espírito, elevou minha alma. Obrigada!
Não quero parar. Não desligue essa fonte.
Uma memória minha de Susana
Memória Sonora e Visual do exercício: improviso a partir da tela de Edgar Degas, intitulada Antes da Performance

Em um dos domingos de encontros, o grupo tinha que criar um improviso coletivo, tendo menos de três minutos de preparação. Para essa apresentação, uma aluna de dança do Centro Cultural da Penha se candidatou a participar como espectadora, somando a mim como plateia dessa cena teatral.
No improviso, Susana tomou o protagonismo para criar a conexão entre o grupo de pessoas e, virando uma bailarina com ego inflado, mostrou sua irritação e soltou um grito, que ecoou em minha memória, e que me recordo até hoje como um momento de engrandecimento dela em cena.
A mediação começa em casa
_EM CONSTRUÇÃO_
Foto da minha tia Claudete, a primeira pessoa que me ensinou a mediar o mundo.

A memória é o que nos torna quem somos
"As memórias do passado são o que nos fazem ser capazes de avaliar o presente como planejamos para viver o amanhã. A mais importante das nossas lembranças são, simplesmente, as lembranças de quem somos; de onde viemos; quem são nossos pais e em qual região nascemos; quais são as histórias que nos contaram; a língua que nascemos falando (...)", diz Wa Thiong’o
_Agradecimentos_
Eu agradeço à Graziela Kunsch, por me orientar sempre com gentileza e atenção, me fazendo desbravar caminhos que ainda não sabia percorrer em primeira pessoa.
À Escola Superior de Artes Célia Helena, o lugar em que me formei ator e que também me deu a oportunidade de cursar o Mestrado em Artes da Cena.
À Escola Fundação Itaú, por viabilizar a existência de um projeto que reúne professores e professoras de referência em encontros que moveram a minha trajetória profissional.
À Segunda Turma Especial do Laboratório em Artes da Cena. Em especial, minha colega e agora amiga, Ana Paula Frazão. Responsável por levar o Museu Autobiográfico para outros territórios, incentivando a continuidade do meu trabalho.
À Luaa Gabanini, Daves Otani e Miriam Rinaldi pelo olhar competente e empático com a minha oficina nas conversas de qualificação. Com papeis essenciais na minha formação como jovem artista, sinto-me honrado em contar com o olhar dos três para meu amadurecimento como ator e mediador.
A Valter Oliveira e Milena Faria, meus primeiros professores de teatro. De vocês ganhei meu primeiro desafio como ator e o primeiro livro de Stanislavski. A Douglas Sampaio, professor do curso de Educador Social no SENAC Aclimação, responsável por me guiar com muita paixão para um novo momento como mediador. A Fábio Ortolano, também professor do SENAC e colega de turma, essencial para a primeira forma de existência da oficina.
Ao Núcleo Experimental de Artes Cênicas do SESI-SP, que me proporcionou integrar um grupo com artistas inesquecíveis.
Às equipes gestoras, educativas, de segurança e de jovem monitoria do MIS – Museu da Imagem e do Som; da Casa Florescer 2; do Centro Cultural da Penha; da Biblioteca Cassiano Ricardo e da Casa Eliseu Voronkoff por me cederem espaços tão preciosos.
Aos meus amigos e amigas que se fizeram presentes mesmo quando eu estive ausente. Em especial, aos amigos Camila Freire, Letícia Benetti, Marina Michelis, Matheus Mazzo e Raíssa Carvalho. E pelo amor e fé na minha capacidade como artista, agradeço a Giovanna Siqueira. E por apoiar a ideia do projeto como oficina enquanto atuava no MIS, agradeço ao Diogo Barros.
Pela escuta de anos, agradeço ao profissional Felippe Lázaro Salomão.
Ao Caio Castelhano que, após embarcar em um ônibus comigo, ofereceu amor e cuidado nos momentos mais sensíveis, aceitando ainda desenvolver o site do projeto com afinco e dedicação total.
À minha família materna, que, além de habitar grande parte das minhas memórias, me fez perceber a importância de vir do lugar de onde eu vim.
À minha mãe, Claudia Maria Rodrigues, e à minha avó, Maria Izabel Tonelato Rodrigues, que, juntas, asseguraram que eu pudesse escolher os caminhos a percorrer sendo quem eu sou.
Novamente, agradeço e dedico este memorial a cada pessoa participante da oficina. Vocês estarão para sempre no meu museu pessoal.